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TROPOSCÓPIO

texto: News

por Daniela Kutschat Hanns

Desenho, animação e vídeo auxiliam Paula Dager a projetar o que não existe e lançar ideias. No projeto proposto para a Residência LABMIS 2012, suas metas eram claras “criar deformações de realidade, instaurar pequenas fantasmagorias contemporâneas e explorar o uso da tridimensionalidade em projeções”. A partir de tais objetivos, o trabalho de Paula Dager se construiu, ao longo dos três meses 
da Residência, na intersecção de ações simultâneas e convergentes: a) o registro e a observação atenta do ambiente urbano, de fluxos e fixos que, posteriormente se tornaram agentes de narrativas audiovisuais, compostas de um híbrido de técnicas de composição e edição de imagens captadas, desenhadas e animadas; b) o desenvolvimento de dispositivo para captação panorâmica audiovisual de imagens; c) o desenvolvimento de suporte tridimensional de projeções audiovisuais, o troposcópio e d) a construção de ambiente para projeção.
 

Paula teceu, em conexões projetuais simultâneas, por exemplo, o desvendar e descortinar a cidade como suas histórias, memórias e paisagens ao pedalar de um flaneur, cujo olhar é amplificado por uma objetiva acoplada ao capacete: um terceiro olho (inspirado nos olhos mágicos das portas de entrada das casas) - uma câmera hd com lente grande angular capaz de registrar um holos panorâmico de forma dinâmica, algo que o olhar despido desse terceiro não captaria.

   

Dentre as conexões tecidas, não há como dissociar o processo de captar, de editar e de projetar imagens audiovisuais, visto que o sistema de captação construído está diretamente relacionado ao sistema de projeção idealizado: um globo de cerca de um metro de diâmetro que lembra uma luminária japonesa e que retroprojeta, a partir de seu centro, um audiovisual em 360º. O sistema, seu formato e a dimensão garantem a projeção panorâmica tridimensional que induz o espectador a se deslocar para enxergar outros pontos da imagem projetada de dentro do corpo esférico que cobre a totalidade de sua superfície curva. Nesse modelo de projeção, se comparado a superfícies planas, o corpo do espectador é envolvido em uma outra forma de ver, aqui o espectador é chamado a explorar, mover-se ao redor da superfície de projeção para desvendá-la. O que se vê, não é o que se vê, é o que se tateia (se presume e se associa no vai e vem do corpo e das imagens), é o que se percebe e se tece como narrativa diante do corpo esférico que emite imagens-luz.
 

Os registros da cidade são Leitmotiv para deformações de realidade e de pequenas fantasmagorias contemporâneas. O corpo “pedalante” gerador de imagens, amplificado por um terceiro olho captador panorâmico, produz algo que se assemelha a rastros: imagens que evocam imagens, lembram edifícios, parques e passagens da cidade em constante deformação. Espaços curvos se afastam e aproximam conforme pontos de fuga que se atualizam a cada instante, a cada pedalada, a cada mudança de rumo. Em alguns momentos, o espectador percebe que há alteração ou algum contraponto espaço-temporal, que o “pedalante” deu lugar ao “caminhante” com chapéu de palha ou ao motorista de carro. Ao mover-se e, portanto, ao explorar as projeções, o espectador pode vir a descobrir que, por exemplo, junto à oca, estruturas robóticas autônomas se deslocam em ritmo lento ou ao longo do minhocão, seres e plantas atravessam as escalas de edifícios e fazem parte de uma paisagem urbana inverossímil e fantástica.
 

O preciso trabalho de Paula Dager, desenvolvido na Residência em 2012 e apresentado na presente mostra, atualiza, para o século XXI, o propósito de inventores dos primórdios do cinema que utilizavam toda a sorte de recursos e projetavam equipamentos e inúmeras traquitanas para lançar o espectador em outras dimensões e realidades.

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